Novo Alcance

Oportunidades perdidas, ovelhas desamparadas

Nota: Este artigo foi extraído da revista Edificação de 2002. É de longa data nossa crítica dos métodos antigos para o crescimento da igreja de Deus.


Não raras vezes irmãos se mudam de locais onde desfrutam da comunhão do Corpo de Cristo para cidades onde não há igreja Deus. Ao invés de considerar sua mudança como uma oportunidade para o Reino vir, junto com eles, à sua nova moradia, dedicam-se aos seus afazeres e deixam a pregação para segundo plano. O que significa não fazê-la.

Muitos desistem da fé, ou abandonando qualquer pretensão de religiosidade, ou frequentando um grupo denominacional. No último caso, comprometem a verdade do evangelho ao aderirem a uma igreja cujas doutrinas são humanas e cujas práticas distam do mandamento do Senhor.

A história se repete e, ao invés de o evangelho progredir e estabelecer-se em cada vez mais cidades, perde-se muitas vezes ovelhas por não serem consagradas ao Senhor e a sua missão no mundo. Preferem arrumar sua vida e correr atrás dos benefícios materiais como os pagãos.

É típico ocorrer uma situação como esta: numa cidade moram sete ou oito irmãos. Nesta cidade não há reunião dominical. Um deixou que suas paixões e ressentimentos o afastassem de Cristo. Outro volta a sua cidade natal nos finais de semana para estar perto de família. Outro frequenta as reuniões de alguma denominação. Um casal, preocupado com os filhos, viaja para um local com igreja estabelecida para participar dela.

Meus amados irmãos, desta forma, nunca teremos igrejas novas sendo estabelecidas por esse Brasil afora.

Não é que falta, então, um senso de missão entre os irmãos? Não seria o caso que, para muitos, a pregação do evangelho e o estabelecimento de congregações seriam tarefas de profissionais?

As equipes missionárias têm de assumir uma boa parte da responsabilidade por este cenário. Vêm com planos para estabelecer igrejas com prédios em avenidas principais no centro das cidades, necessitando de centenas de milhares de dólares, com pesada infra-estrutura para sustentar programas de mídia, escolas da Bíblia e outros esforços de alta visibilidade.

A igreja brasileira não tem como reproduzir este modelo. Os missionários deixam seus convertidos na mão, pois quando estes se mudam para outras cidades, falta-lhes exemplo de como iniciar o trabalho sem grandes recursos. Quem dispõe de mão-de-obra, recursos financeiros e infra-estrutura complexa como os missionários estrangeiros? Será que o trabalho de missões, de começar novas congregações, deve ser coisa de profissionais com muitos meios e mão-de-obra “qualificada”.

Muitos bons obreiros têm feito excelente trabalho, mas em boa parte os fazem apesar do exemplo missionário e não por causa dele. Certamente, eles são dignos de louvor e de imitação.

Todavia, estes obreiros são poucos. E, a este ritmo, se depender dos missionários das equipes que com pouco fazem excelentes serviços, a igreja continuará perdendo terreno face ao crescimento da população. Em dez anos, de 1990 a 2000, a igreja cresceu pouco, em termos de número de congregações e também de irmãos. (Ninguém tem dados precisos; nossa estimativa se deve à confecção da lista das igrejas.) Há apenas uma explicação: não estamos fazendo como os primeiros cristãos. “Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (Atos 8.4, NVI). Quando surgiu a perseguição, os apóstolos ficaram em Jerusalém; os outros irmãos, dotados dos mais diversos dons e ministérios, foram, todos, pregando a palavra sob as mais duras circunstâncias. Isso, com toda certeza, não está acontecendo hoje no Brasil.

Hoje, estamos deixando a pregação e a missão nas mãos dos nossos “apóstolos”.

Se queremos continuar um grupo pequeno, com alguns prédios bonitos em locais estratégicos para aparecer por dois segundos no olho dos motoristas que rodam nas avenidas das grandes cidades, vamos continuar fazendo o que estamos fazendo hoje. Se queremos, como Deus quer, crescer e cobrir a Nação de fio a pavio com o evangelho, vamos cada um sair pregando nos bairros, nas casas, nas esquinas, munidos de tudo o que precisamos: a Bíblia na mão, Cristo no coração e a palavra na língua, para que todos ouçam a Boa Nova da Cruz.

─Da revista Edificação, agosto de 2002, págs. 14-15

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